HORA DE ENCILHAR O DESTINO.

Apenas um por do sol nos separa da tão esperada disputa. Embora a cortesia e os bons costumes sejam inerentes em nossa veia anfitriã, nunca vi nossa artéria farroupilha tão pulsante quanto neste momento. Serão três dias em que o Sol nascerá e irá se por ao som das réguas e fichas retinindo e, a cada vitória o instinto nos lembrará de nossas origens.

O tradicionalismo gaúcho vive no presente o passado de glórias e amor pela querência. Aqui companheiro, nesta terra valente, por detrás das coxilhas existe costume e tradição. Há força, dignidade e história e, além de churrasco e chimarrão, existe luta, batalha e vitória.

Nós sempre fomos assim, sempre crescendo na dificuldade e na superação de nossos limites, motivados pelo impossível. Muitas foram as batalhas travadas e o rubro sangue derramado não está somente representado em nossa bandeira, entre o verde de nossas pastagens e o amarelo de nossas riquezas, está representado em nossa alma, em nosso espírito livre. Livre porque o fizemos assim, livre porque nunca fomos reféns do destino, muito pelo contrário: o encilhamos e o fizemos de montaria, para que escrevêssemos a história através de nossa bravura e teimosia. Se enganam aqueles que pensam estar na militância o sucesso de nossa ascensão, pois a vitória sempre esteve em nosso coração: pendão maragato.

Mas já ensina nosso hino, que para ser livre não basta ser forte, aguerrido e bravo. Somos honrados, respeitamos nossos adversários. Somos organizados e inteligentes, pois sabemos que a vontade de vencer só não pode ser maior que a vontade de se preparar para vitória.

Como já declamava Jayme Caetano Braun:

Fui sempre aquilo que sou, sou sempre aquilo que fui,

Porque a vida não dilui o que a mãe terra gerou...

Sou o brasedo que ficou e aceso permaneceu,

Sou o gaúcho que cresceu junto aos fortins de combate

E já estava tomando mate quando a pátria amanheceu!

É por isso, meus amigos, que nunca seremos escravos ou reféns de regras e modalidades. Somos campeões no cavado porque nos dedicamos a ele, porque nos preparamos para vencer. No Liso não será diferente. Talvez não estejamos preparados ainda para vitória, mas somos aqueles que pelearam contra nações vizinhas para desenhar suas fronteiras, somos aqueles que enfrentaram a própria federação em nome de sua honra e dignidade. Somos Gaúchos e a bravura é a nossa arte. Amanhã se inicia a disputa, desta vez marcada em nossas coxilhas, sendo nós observados por Guaíba, o berço da própria Revolução Farroupilha.

Mostremos todo nosso valor nesta ímpia, porém justa disputa. Não temamos os nossos grandiosos adversários, e tenho a certeza que mais uma vez servirão nossas façanhas de modelo a toda a Terra.