quinta-feira, 15 de outubro de 2009

UM PEQUENO GRANDE CAMPEÃO

Poucas coisas são mais bacanas que uma história infantil. A história que será contada a partir de agora não é uma daquelas onde existe um herói lutando contra vilões. A história é bem mais simples, mas não menos bonita. E na verdade não se trata bem de uma história infantil, trata-se sim de um infantil fazendo história.
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Era uma vez um pai de decendência nipo-germânica (existe isso???) que redescobriu depois de muitos anos o futebol de mesa. Esta descoberta se deu através de um vizinho muito pão duro que diariamente tomava um cafézinho no bar deste pai. Este cidadão chama-se Douglas e depois de apaixonar-se pelo novo-antigo esporte resolveu trazer seus dois filhos para também praticá-los.
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No início chegava a ser divertida a forma como este pai "levava" seus dois filhos. Sempre muito carinhoso com os moleques, Douglas também era muito exigente com os meninos. Não foram poucas as vezes que Douglas deu bronca em um dos dois na frente de todo o grupo. Vale dizer que após a bronca, Douglas virava pro lado e segurava uma gargalhada. A intenção era clara: os meninos deveriam saber que aquilo era um hobby, mas que deveria ser levado muito a sério. Organização, dedicação e respeito pelos mais velhos eram as bandeiras levantadas por este zeloso pai no dia a dia dos filhos no departamento.
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Os meninos começavam a se destacar e o mais novo, também muito "menos dócil" que o mais velho, parecia ter o DOM para praticar o esporte. A praticamente dois anos atrás estes meninos foram convidados pelo pai para uma viagem ao interior do estado, mais precisamente para Bagé City, na fronteira do estado. O mais velho foi com a responsabilidade de apitar jogos importantes da competição, já o mais novo foi porque o mais velho iria, e também porque sobrou espaço na van que levaria a delegação.
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A surpresa foi que na competição o mais novo não parou de incomodar até que ele também tivesse a oportunidade de apitar um jogo. Assim foi feito, e o pequeno Mielke agora passava a ter experiência como árbitro, isso com apenas de 11 para 12 anos, já que o aniversário deste pequeno seria comemorado em meio a competição.


Renan e Yago, às 07 horas batendo bolinha em Bagé
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No início do ano seguinte este pequeno já começava a fazer história sagrando-se campeão estadual júnior, com vitória na final sobre o favorito Everson, que lutava pelo bi-campeonato. Este era o primeiro título do pequeno Mielke, que já era apontado por muitos como uma das grandes promessas do nosso futebol de mesa.

Yago campeão estadual júnior do ano de 2008
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Ainda em 2008 o pequeno foi protagonista de mais uma façanha. No estadual por equipes, escalado como reserva, acabou jogando algumas partidas e até fez alguns gols. Os mais importantes foram numa espetacular vitória sobre o então campeão estadual Silvio Silveira (ARFM), vitória por sinal até hoje comentada, inclusive pelo próprio Silvio, um verdadeiro exemplo de desportista.
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Já em 2009 o pequeno Mielke sagrou-se bi-campeão estadual da categoria júnior. Então ficamos assim: ele já é bi-campeão e tem ainda mais 3 anos na categoria. Mas o maior de todos os desafios ainda estava por vir. Todos sabem da cultura gaúcha de jogar com botões cavados, mas a verdade é que a modalidade de lisos cresce a cada dia e o nosso departamento acabou adquirindo duas mesas desta modalidade. No início muita empolgação, mas aos poucos a novidade deixou de ser novidade e a prioridade de todos no depto acabou sendo o cavado mesmo. Mas se aproximava o campeonato brasileiro e aos poucos foram aparecendo os interessados em fazer um longo deslocamento até João Pessoa, onde seria realizada a competição.
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Junior, Mano, Dani confirmados, Cristiano e Ávila interessados e certo dia Junior teve uma das suas, como diria sua esposa, "idéias de jirico". Junior fez um contato com André, o presidente da FGFM, perguntando da viabilidade deste menino jogar o brasileiro. André informou que sreria sim possível, mas apenas na modalidade de lisos, já que não sairiam categorias menores no cavado. E será que ele treinando seria capaz de fazer frente aos infantis do nordeste? Estava lançado o desafio e a partir daí foi só convercer ao Douglas, o que confesso nem foi tão trabalhoso assim. O pequeno Mielke passaria a treinar a modalidade liso. Seus "professores" seriam Paulo, Nei, Caco e Brandão dentro da associação, e o próprio André em treinamentos "fechados" nas segundas-feiras. Eram apenas 60 dias para adaptar a nossa jovem promessa as artimanhas dos lisos, mas ele se preparou e era chegada a hora da viagem. Junior era o responsável pelo menino nesta aventura e, como era esperado, em nenhum momento o pequeno deu trabalho, muito pelo contrário, foi um grande prazer tê-lo como companheiro.
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Yago devidamente uniformizado em João Pessoa
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Chegando a João Pessoa, um grande susto, que logo se transformou em enorme desafio. Assim como nas competições no RS, não era tão grande o número de meninos inscritos. Na categoria infantil eram apenas quatro, na juvenil mais dois ou três e os demais eram todos juniores, entre 16 e 17 anos. A organização resolveu colocar a todos numa única categoria, e assim teríamos apenas a categoria júnior. Posso estar enganado, mas acho que o nosso menino era o mais novo de todos, mas talvez o de maior personalidade também.
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A COMPETIÇÃO
Estréia muito nervosa e o nosso pequeno começa empatando um jogo onde começou perdendo. O grito do gol de empate foi possível escutar do lado oposto do salão, e isso é verdade. Eu estava jogando na 1ª, ou última mesa do salão. Vitória no segundo jogo e a vaga a segunda fase estava assegurada. No 3º jogo o adversário era aquele que ganhava tudo na categoria na Bahia. Por coincidência o nome era Iago, mas este era com "I" mesmo. Grande jogo, onde a derrota foi injusta, mas a classificação estava assegurada.
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Começava a segunda fase e parecia ser o fim para nosso sonho. Os adversários seriam os juniores Wescley da BA e Bruno do RJ. Fomos avisados que o bahiano era conhecido como o "mágico dos chutes", é mole? A verdade é que o mágico dos chutes caiu por 2 x 0 e com isso estávamos a um empate da semifinal. Jogo decisivo contra o já "amiguinho" Bruno e nova vitória, desta vez por 2 x 1. Parecia um sonho, mas estávamos na semifinal.
Yago com Wescley, o mágico dos chutes da Bahia
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Aqui vale uma pausa: até aquele momento nenhuma surpresa, por o nome Yago lembrava o do outro, daquele com "I", lembram? Nada de anormal então, 2 bahianos, 1 pernambucano e outro do Rio Grande do Norte nas semifinais. Aos poucos as pessoas foram descobrindo que este era outro Iago, um Iago com "Y" e que não era da Bahia, e sim do Rio Grande do Sul. Nesta altura a gauchada estava enlouquecida. Pelotenses e Caxienses vinham parabenizar e apoiar a Yago e todos ficavam espantados com a história dos apenas 60 dias de treinos. Todos eram "o pai da criança". Junior e Dani falavam orgulhosos que ele "era nosso" e o presidente André exibia um sorriso de orelha a orelha orgulhoso que estava do seu pupilo das segundas-feiras.
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AH! O resultado da semifinal. O tal mágico dos chutes reapareceu e derrotou ao nosso Yago pelo placar mínimo. Até o final do jogo tínhamos esperanças, tal era a vontade e a inconformidade de Yago com a derrota. Tanto era o nervosismo de André que o presidente não conseguiu assistir ao segundo tempo e teve que se afastar da mesa. Daniel de Caxias se postou ao lado da mesa e incentivava a cada jogava. Mas não deu mesmo. Venceu não o melhor, mas aquele que foi melhor neste confronto. Yago tem apenas 13 anos e enfrentou nas semifinais a três técnicos de 17 anos. O campeão Rafinha (RN) parecia jogar a no mínimo 20 anos tal era sua tranquilidade e conhecimento do jogo e das regras. O pernambucano Rodrigo parecia já ser pai de filhos, com direito inclusive a barba. Wescley, o mágico dos chutes, era a tranquilidade em pessoa e tinha uma técnica apuradíssima. Já Yago não tem barba, não parece ter filhos e também não é dos mais tranquilos, mas tirando isso tudo, não fica devendo em nada para estes juniores.
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A verdade é que o objetivo foi alcançado e até superado. Yago foi o melhor dos infantis e também dos juvenis. E Yago só não foi campeão porque não era a hora ainda. Se esta hora vai chegar somente saberemos mais adiante, mas chegando ou não, Yago já é campeão.
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Na entrega da premiação, uma quebra no protocolo. André, presidente da FGFM não se aguentou. Pediu a palvra e com Yago ao seu lado, com o troféu na mão, informou a todos que aquele menino era gaúcho e que a apenas 60 dias tinha começado a jogar de lisos. André completou dizendo que daquele momento em diante todos já sabem que aquele era o Yago, o Yago do RS, e com "Y".
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Delegação completa no aguardo da premiação de Yago
O "junior" Yago com o troféu de 4º colocado
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Parabéns ao Douglas e a Valéria pelos filhos Renan e Yago, dois grandes meninos, dois grandes botonistas e com certeza com grandes futuros. Renan e Yago são, ao lado do Mateusinho, o futuro do nosso futebol de mesa.
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Muito obrigado ao Douglas e a Valéria pela confiança. Isso nos proporcionou viver o campeonato brasileiro até o último jogo. Sinceramente acho que fiquei muito mais nervoso e emocionado que ficaria comigo mesmo disputando alguma coisa. O Yago me proporcionou momentos de rara intensidade e emoção.
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Yago: jamais esquecerei dois momentos muito especiais, nossa vibração no segundo gol contra o Wescley, no último lance do 1º tempo e o abraço após a derrota na semifinal, quando te disse, e agora reitero, que estava muito orgulhoso de ti.
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VALEU JUVENIL!!!

14 comentários:

Rodrigo Bernardes. disse...

Belíssima matéria, assim como a pessoa do Yago e do seu irmão Renan: São dois meninos de ouro. Concordo que esses 2 garotos e o Matchaquinha ainda darão muitas alegrias ao Rio Grande do Sul.

Quanto à regra, não concordam que a federação gaúcha deveria propor alguns adendos quanto a esta mudança? Unificar as regras é um passo importante para a prática, arrumar os botões de certa forma já era feito com a famosa "bola podre", mas simplesmente voltar ao que tínhamos é um retrocesso de 5 anos. Deveríamos formular algum artifício que impedisse o chute oportuno para linha de fundo. Assim poderíamos inclusive ser incluído na regra do liso, mantendo a unificação. Abraço a todos.

LUIS RODALLES disse...

Lindo texto, Parabéns ao Yago pela técnica e facilidade em dominar o liso, mas chamou-me atenção um fato não mais importante que o feito de Yago, mas as notícias dos bastidores, como ocorreu o treinamento, os envolvidos, etc.
É muito legal ter amigos deste quilate, é perfeitamente justificável o ambiente do C. M. é uma grande família.
Parabéns a todos e muito sucesso.

Fernando disse...

Parabéns Para Yago por sua façanha.
Mas ter este talento para escrever...só sendo meu primo. porque quando se fala em talento, tem que se erdar de algum lugar.hehehehehehe

Fernando disse...

Só agora li o que o PAulo escreveu. Paulo, foi muito importante tua colocação, pois era um dos que estavam arrasados com esta mudança. teu comentário me deu um outro norte. mas penso que isto só vai dar muito mais foça para o liso, arrumando, prefiro jogar liso.

Unknown disse...

Texto tão brilhante quanto o brilhante Yago em sua jornada pela Paraíba!
O pequeno Yago não seria o nosso Yoda? :-)

Susana Rodrigues disse...

Parabéns pelo título e pelo corte do cabelo!

Passei aqui só para lembrar que a família treina na histórica mesa que veio dos Schemes, passou pelo Carecon, foi recauchutada pelo Guido e agora o Wembley está ali em Canoas.

Ter "estádio" faz a diferença!

NILMAR disse...

Parabens, Yago pela campanha, parabens a familia Mielke pelos dois pupilos, grande matéria JR "show de bola".

Anônimo disse...

Parabens ao Yago ,ao autor pela emoção transmitida (me senti lá assitindo o jogo e confesso estar muito emocionado )e principalmente ao Douglas , grande amigo ,grande pessoa que com certeza soube apoiar e transmitir grandes valores a seus filhos e sua apurada técnica que apreendeu em São Bernardo do Campo ,onde aos 11anos já era terceiro coloca Estadual por equipe pelo Volkswagem clube.
Como tinha tb extrema habilidade com pés ñ deu seguencia ,mas tornou-se um dos melhores meia-direta (camisa 8) com quem já joguei não se profissionalizando ninguem sabe exatamente porque ,pois jogava em uma equipe onde varios outros menos habilidosos se profissionalizaram.
Parabens tb a toda essa FAMILIA de botonistas ,a qual só conheço pelo blog ,ma posso afirmar que o grande segredo da alegria está nas AMIZADES ( artigo publicado na revista SUPER INTERESSANTE de outubro/09 ,estudo centífico realizado em HARVARD UNIVERSITY).
Um grande abraço Wilton

Paulo Roberto Schemes disse...

BEEEEMMMM REDATOR!!!!!
A cada dia qu passa, mais se firma como o melhor redator de Blog que leio. E olha que procuro visitar todos os relativos ao Futebol de Mesa, que é o esporte que me interessa. Parabéns JR por sua narrativa, proporcionastes a todos uma viajem virtual com direito à emoção.
Falar da FAMÍLIA MIELKE é chover no molhado, mas deve ser feito sempre e valorizada a iniciativa do Douglas. Vejo de certa forma hoje no Douglas a história que se repete de Dirnei Custódio, Claudio Schemes, Sergio Pierobom dentre outros que tornaram o Futebol de Mesa como membro da família trazendo seus filhos para o convívio e proporcionando a estes literalmente que "que sejam amigos dos seus amigos". Esta é a essencia da renovação.

Caco disse...

Quando falamos em futebol de mesa, a primeira reação das pessoas costuma ser de perplexidade. Como? Jogo de botão? Nosso esporte sempre é tomado como uma brincadeira, o retorno à infância de homens já não crianças. Quando temos a oportunidade de explicar da nossa organização em associações, federações e confederação o espanto é total pois quem não vive nosso dia a dia sequer imagina que isto exista.
Entre tantas mensagens recebidas exaltando o feito do Yago destaco o reencontro, proporcionado pelo futebol de mesa, entre 2 amigos de infância afastados a longo tempo pelos caminhos que cada um trilhou. Imagino a emoção que deve ter sentido o Douglas ao ler a postagem de seu amigo Wilton.
Que maravilha. São amizades que se formam e que se renovam graças ao futebol de mesa.

Augusto 2 - toques disse...

Buenas a matéria é show assim como o júnior e o yago, 2 grandes pessoas, o talento do yago é algo fascinante, tem tudo pra ser um novo "Róbson" do futmesa gaúcho e nacional, ouvi de outro grande botonista (um doas maiores da atualidade) que yago tem tudo pra ser tornar um dos maiores botonistas do estado em pouco tempo, só acho o treino de segunda um equívoco, o André não está nem no Top 30 ehehehehe

PTC Futmesa disse...

Valeu Augusto!

Quanto ao André, "era o que tínhamos para o momento". Pelotas e Caxias ficam um pouco distantes...

Alguns bandidos falaram que o Yago só não venceu exatamente por causa dos treinos com o André. PURA MALDADE!!!

Um abraço

Marcelo disse...

Grande matéria! No extensão e na qualidade. Ainda assim é pouco para falar sobre o que esse garoto ainda poderá proporcionar ao nosso futmesa.

Parabéns Júnior e todo o pessoal do CM. Esses são os frutos colhidos da importância dada à tão necessária renovação.

Marcelo Vinhas.

Thomas disse...

Fantástica matéria, muito bem escrita. Parabéns!
Mas parabéns em especial ao pequeno gigante Yago, ao seu irmão Renan, que muita o ajuda e aos pais, Douglas e Valéria. Parabéns Douglas !! Fiquei muito orgulhoso e encheu meus olhos. Este exemplo deve ser seguido Brasil afora. Estas atitudes de pais incentivando esportes é que faz a diferença na criação dos filhos!!